“Eu ando agora como as sombras, sem uma direção certa, sigo os passos das outras pessoas, e faço o que devo fazer, na hora que tenho que fazer, sem perguntar o motivo e o porquê”.
Estou a 5 anos vivendo com Fobos, depois dos acontecimentos em Borë nunca,mas nos separamos,nesses 5 anos muitas coisas aconteceram,presenciei varias mortes e ate ajudei em algumas e com o passar dos anos fui me acostumando com o cheiro do sangue e com os gritos de desespero das vitimas,acho que no fundo sempre fui sádica, tem momentos que chego a me empolgar com as mortes, Fobos me disse que no futuro irei ficar em seu lugar,que o cajado que ele nunca larga será meu e eu o comandarei,posso dizer que... Não vejo a hora de esse dia chegar, mas antes que ele chegue tenho coisas para fazer, uma delas é descobrir quem é o Ser que fala com ele através do cajado, e a outra e me curar dos constantes pesadelos que não saem da minha cabeça eles me atormentam dia e noite sem cessar, às vezes acho que já estou à beira da loucura e existem certos momentos que tenho a certeza de que já estou louca... Nesses 5 anos destruímos famílias, matamos inocentes e roubamos órgãos e corpos tudo para saciar aquele que eu nunca vejo só ouço, Fobos sabe quem é, mas não me fala só diz: na hora certa você ira saber.
Mas se tem algo que odeio é esperar, e é por esse motivo que vou abusar do meu sadismo para matar Fobos e roubar - lhe o cajado, assim saberei quem é esse ser tão poderoso, que manda e desmanda nas nossas vontades, mas antes tenho que arquitetar um plano para pegar Fobos. Sei o quanto Fobos é poderoso, mas também sei que boa parte de sua força vem do cajado, tirar ele de perto do cajado não vai ser fácil, mas darei um jeito...
Hoje o dia começou agitado, Fobos acordou antes do nascer do sol, fincou seu cajado no chão da pensão onde estávamos hospedados, dessa vez o cajado não brilhou, Fobos recitou algumas palavras em uma língua que ate hoje não conheço nem compreendo, depois de recitar as palavras o cajado começou brilhar e a voz falou em um tom grave... _Porque demorou tanto, sabe como odeio esperar, e não tenho tempo... Como andam os preparativos para minha chegada, o corpo já esta completo?
Fobos não demorou a responder e disse: _ sinto muito, mas ainda faltam alguns detalhes essências, e o tempo é curto para tanto a ser feito.
O Ser em tom de raiva retrucou quase gritando _ já te dei tempo demais, tem ate amanha para concluir tudo ou matarei você! E não ouse me dar mais desculpas, nada que vier a me falar mudará minha decisão. Depois de ditas essas palavras ele calou e o cajado parou de brilhar, Fobos respirou profundamente como se quisesse se livrar logo disso, ele caminhou em minha direção, me acordou, sem saber que eu já estava acordada ouvindo tudo, mandou que eu me levantasse e me arrumasse,iríamos partir imediatamente.
Saímos da pensão, antes do sol aparecer, andamos ate a ferrovia,quando o trem passou,embarcamos, eu não sabia para onde estávamos indo, e também não quis perguntar, meu tempo também estava curto, eu tinha que da um jeito de pegar o cajado, e matar Fobos, só assim iria descobrir quem é o Ser que tanto fala com ele...
Passei a viajem toda pensando em uma maneira, de roubar o cajado, mas nada me veio à mente, talvez fosse à hora de agir de uma maneira diferente, e era isso que eu ira fazer.
Quando chegamos ao nosso destino, uma pequena cidade chamada Poente fomos à procura de uma pensão para nos hospedar, Fobos não me falou o que iríamos fazer, mas pela expressão em seu rosto não era fácil.
Na pequena cidadezinha não havia pensões, mas um casal de idosos alugou um quarto para nos por três dias, guardamos nossas coisas que não eram muitas, e saímos para explorar,quando saímos da casa,Fobos me falou que havia na cidade uma criança que acabara de nascer, e que o Ser queria o coração dela.
Achar um recém nascido não é fácil, mas conseguimos encontra-lo, era um bebê lindíssimo, um menino, sua mãe o amamentava,quando invadimos a casa, nunca pensei que Fobos fosse agir daquela maneira, ele foi literalmente direto ao assunto e arrancou o bebe do seio de sua mãe, que começou a gritar desesperada, eu fiquei ali parada vendo tudo acontecer, vivi alguns anos com o Fobos e nesses anos em nenhum momento o vi agir assim, sem um plano antes.
A mulher gritava alto pedindo socorro, mas seus gritos não duraram muito tempo, eles se calaram quando Fobos arrancou sua cabeça com um golpe de cimitarra, uma espécie de espada com a lamina curva, tudo aconteceu muito rápido. Saímos da casa correndo para no sermos vistos, Fobos carregava o bebê e o cajado que ele nunca soltava, eu em meus pensamentos tentava achar uma maneira de matar Fobos e descobrir quem era o Ser por trás de tantas mortes.
Corremos ate uma floresta, e lá iniciou o ritual para arrancar o coração do recém nascido, eu nunca fui uma garota sensível, mas aquela criança mexeu comigo, ele era muito novinho, mas tinha um olhar penetrante, o que chamou minha atenção. Aproveitei que Fobos saiu para falar com o Ser, e me aproximei do bebê, seus olhos acinzentados brilhavam, eu me senti fraca e zonza diante o bebê, vozes vieram a minha cabeça, estava tudo embaralhado, eu não entendia direito, mas aos poucos fui me concentrando, e consegui entender o que ele dizia: _ não pense que sou um bebê inofensivo, este corpo foi escolhido por mim, para reinar neste mundo, o Ser que você serve não chega nem aos pés de quem sou não conheço você, mas sei o que você quer e posso te dar, mas para isso terás que fazer algo para mim, e não pense que estou dependente de você, com um simples pensamento posso me desfazer de vocês dois.
Aquelas palavras me paralisaram, já havia visto varias coisas esquisitas e estranhas nesses cinco anos que vivi ao lado de Fobos, mas nenhuma me assustou tanto, um bebê aparentemente inofensivo, era um mal encarnado, sua voz rouca parecia vim das profundezas da terra, o seu olhar acinzentado mudou de cor e passou a ser negro gélido, seu meio sorriso era sádico e ele não parecia estar blefando, talvez o Ser não soubesse quem ele era, mas ele sabia exatamente quem o Ser era, fique atordoada, tinha uma escolha a fazer, não era a primeira escolha difícil da minha vida, mas era com toda certeza a mais assustadora, talvez a minha união a esse bebê facilite minha vida, ele pode me ajudar a matar Fobos, e assim terei o cajado e com ele em mãos poderei descobrir quem é o Ser, estou obcecada, para saber quem ele é e o que quer com tantos corpos e órgãos e o mais importante porque me deixou viver. Meus pensamentos me possuíram e por muito pouco não esqueci de responder, se aceitava ou não me juntar ao pequeno bebê.
Resolvi mudar um pouco o acordo e disse a ele: _ eu aceito te ajudar, com algumas condições, o cajado será meu, e eu mesma quero matar Fobos, não seria nada agradável para mim vê-lo morrer por outras mãos que não fossem as minhas...ah já estava quase me esquecendo,matar Fobos não será nada fácil,não sei qual é o seu ponto fraco e com o cajado ele se torna um alvo muito poderoso.
Quando terminei de falar o pequeno bebê caiu em gargalhadas, eu não via a graça,mas ele ria como se estivessem fazendo cócegas nele,antes que o interrompesse, ele parou de rir e me encarou,respirou profundamente parecia procurar algo dentro de si e me falou: _Poderoso sou eu! Você já deve ter se perguntado varias vezes por que Fobos não tira sua capa?!
Eu respondi: _ já sim, e porque ele não tira a capa?
Ele pareceu se deliciar com a resposta que iria me dar como não tínhamos muito tempo ele foi rápido e falou: _ preste bem atenção, você não pode errar, Fobos tem uma enorme ferida em seu peito, tem anos que ele tenta achar a cura, e ate hoje ele nunca a encontrou e essa ferida esta matando ele, sua única fonte de poder é o cajado sem ele, Fobos se torna mais frágil que um recém nascido, pegue a cimitarra dele espere ele chegar perto de mim, quando ele virar as costas para você agarre ele e não perca tempo enfie a cimitarra na ferida,tenho certeza que a dor será imensa... Ah não se esqueça de pegar o cajado, o resto pode deixar comigo.
Tudo estava indo muito bem, logo eu teria o cajado e mataria Fobos, mas algo dentro de mim me deixou em alerta, estava realmente tudo muito perfeito e isso me deixou muito preocupada, mas minha sede de sangue, falou mais alto que meu instinto, havia chegado o momento que tanto sonhei...
Esperei ate que Fobos retornasse da mata, dessa vez ele havia demorado mais que de costume, logo que ele chegou, eu me preparei e lembrei das palavras do bebê “não pode errar”, Fobos foi ate o bebê, ele sempre olhava para as vitimas antes de executá-las e dessa vez não foi diferente, deu uma ultima olhada e começou o ritual.
O ritual da morte como ele chama, é uma celebração nada agradável, ele fala em uma língua estranha,e depois mata as vitimas,são poucos os casos que ele não faz o ritual, borë foi um desses casos, aproveitei o momento para fazer o que o bebê havia mandado, mas não deu muito certo,quando me aproximei com a cimitarra ele abriu os olhos,e me viu, eu não pude fazer nada naquele momento então fui pra cima dele com tudo, mas ele me derrubou, e tomou a cimitarra das minhas mãos, parecia que o feitiço havia virado contra o feiticeiro, só que no meu caso eu não podia perder ao meu lado havia um pedaço de madeira e quando ele veio para me furar com a cimitarra eu enfiei a madeira nos peitos dele, agora sim eu tinha começado a sentir o doce sabor do meu desejo, com o pé eu o empurrei e ele caiu de costas gritando de dor, peguei a cimitarra e comecei a esfaquear Fobos, só parei quando ele já não respirava mais, seu sangue podre havia respingado por toda minha face, o cheiro de sangue sempre me alegrou, mas esse sangue me deixou muito eufórica, mas minha total alegria só veio quando peguei o cajado era tanto poder, eu pensei comigo que agora sim eu poderia reinar sobre a terra, mas meus belos pensamentos foram interrompidos com as vozes em minha cabeça o bebezinho do mal me observava atentamente e me disse: _saboreou seu desejo, pequena?
Meus olhos brilharam diante a pergunta dei a ele como resposta umas belas gargalhadas, nada mais. Ele pareceu se contentar com minha resposta e tornou a falar, mas dessa vez me pediu ajuda para levantar, antes de levantá-lo fiz umas perguntas que não saiam da minha cabeça a primeira como ele encarnou neste bebe e a segunda como ele ira viver se ainda não pode andar sozinho?
Quando fiz as perguntas ele demorou a responder, o silencio por alguns instantes reinou, mas foi interrompido pela voz rouca e demoníaca do pequeno que me disse: _eu estou reencarnando, tenho poderes para vim quantas vezes for preciso e sei andar sozinho, não preciso que me carreguem, logo acharei outra pessoa para me criar e quando eu estiver pronto, trarei meus súditos do mal para dominarem este mundo.
Suas respostas não me agradaram, mas agora eu possuía o cajado, nada mais me importava.
Ajudei o bebê a se levantar, como não fomos apresentados eu perguntei a ele seu nome, mas a resposta foi assustadora com seu olhos brilhando ele me disse:_ sou aquele que você tanto quer conhecer,aquele que você chama de SER,o dono desse cajado que esta em suas mãos...
Com a voz tremula falei: _ não é verdade, o Ser não mataria Fobos, ele precisa dele e o Ser ainda não estava encarnado eu e o Fobos estávamos montando um corpo para ele.
O bebe caiu em gargalhadas e disse: _ onde já se viu montar um corpo, só na sua cabeça pequena e eu não matei Fobos, foi você que o matou,tínhamos um acordo, eu te dei tudo o que você queria você matou Fobos, possui o cajado e sabe quem é o SER por trás de tudo, agora é a minha vez de ter o meu objeto de desejo.
Eu não queria perguntar, mas não tinha outra saída então fiz a tal pergunta: _ qual é o seu objeto de desejo?
A resposta não poderia ser pior, com o seu olhar gélido ele respondeu: _ é você!
Ele começou a caminhar em minha direção, mas antes que chegasse perto de mim eu comecei a correr sem olhar para traz, eu tinha que fugir o mais rápido possível, não sei o que ele queria comigo, mas boa coisa não era. Quando pensei que estava salva ele apareceu, se eu já estava com medo dessa vez quase morri, não pude acreditar no que estava acontecendo como ele foi tão rápido, o terror tomou conta de mim, eu comecei a gritar, jamais em toda minha vida eu havia gritado de medo, agora eu sei como todas aquelas vitimas estavam desesperadas, eu não tinha para onde ir, nem para onde correr, ele veio ate mim, e falou ao pé do meu ouvido: _sua avó tinha razão, a sua morte será bem pior, e sabe por que, porque seu sangue cheira bem, só por isso, quero beber todo o seu sangue ate não ter mais nenhuma gota, depois abusarei de seu corpo enquanto ele apodrece aqui na floresta e esta historia sou eu quem terminará.
Com a cimitarra em mãos eu furei o pescoço de Laquesis, e suguei seu sangue, ela gritava de dor enquanto eu devorava sua carne, minha fome era enorme e cada vez eu queria mais e mais, a dor que ela sentia era terrível, ela se contorcia toda, eu adorei ver e sentir tudo aquilo, mas antes do seu ultimo suspiro eu abusei de seu corpo, eu estava insaciável,ela era mais do que pensei,passei alguns dia ao lado do seu corpo podre, e em algumas vezes abusei dele, mas minha felicidade havia chegado ao fim, um velho lenhador me achou, mas não por acaso, ele me pegou no colo e me levou, para onde, só eu sei, mas posso estar em qualquer lugar agora, inclusive perto de você.
Autora : Michelle O. Souza